Em tempos de multitarefas, mensagens que não param de chegar e uma avalanche de estímulos visuais e sonoros, encontrar um caminho para a concentração parece cada vez mais difícil — especialmente para quem, após anos no regime CLT, decide empreender e precisa montar uma nova rotina sozinha. Como manter o foco? Como criar um ambiente propício ao trabalho, especialmente em casa, onde as distrações são muitas?
É aí que entra um recurso simples, porém poderoso: a música. Mas não qualquer música. Estudos mostram que a música erudita, especialmente quando tocada em volume baixo, pode ser uma excelente aliada da concentração, criatividade e até mesmo da produtividade.
Pode parecer curioso no início — afinal, para muitas pessoas, a música clássica parece distante ou formal demais. Mas ao dar uma chance a essa forma de arte, você pode se surpreender com os efeitos positivos que ela pode provocar em sua mente, seu ritmo de trabalho e até mesmo no seu humor. Neste artigo, vamos entender como isso acontece, por que funciona e como aplicar no dia a dia do seu negócio.
1. O poder do som: o que a ciência diz sobre música e concentração
A relação entre som e foco tem sido estudada há décadas. Pesquisas apontam que sons com baixa complexidade rítmica e ausência de letras (como é o caso da música erudita) favorecem a concentração e reduzem a sensação de cansaço mental. Uma das teorias mais conhecidas é o chamado “Efeito Mozart”, que sugere que ouvir composições do músico austríaco pode melhorar temporariamente a performance de tarefas cognitivas.
Embora o Efeito Mozart tenha sido relativizado ao longo do tempo, muitos estudos posteriores reforçam a ideia de que a música clássica pode ajudar a ativar áreas do cérebro ligadas à memória, à atenção e à resolução de problemas. Isso acontece porque ela cria uma “atmosfera mental” propícia ao foco — sem distrações abruptas ou mudanças bruscas de ritmo, como ocorre em outros estilos musicais.
2. Por que a música erudita funciona especialmente bem
Diferente de outros estilos, como pop ou rock, a música erudita normalmente não contém letras. Isso já elimina uma fonte importante de distração: a tendência que temos de acompanhar a canção e cantar mentalmente. Além disso, por sua estrutura mais equilibrada e harmônica, ela ajuda a acalmar o sistema nervoso e induz a estados mentais de concentração e até leve meditação.
Compositores como Bach, Mozart, Vivaldi, Debussy e Satie são conhecidos por criar peças que induzem tranquilidade, constância rítmica e organização mental — três qualidades fundamentais para quem precisa manter o foco em tarefas cognitivas ou criativas.
3. A música como ferramenta de ambientação
Criar um ambiente de trabalho produtivo em casa ou em espaços alternativos pode ser desafiador. Muitas mulheres 50+ que migraram para o empreendedorismo relatam sentir falta da estrutura que tinham em seus empregos CLT: horário fixo, local definido, colegas por perto. No empreendedorismo, o cenário muda: é você com você mesma.
Aqui, a música erudita entra como um recurso de “contenção sonora” e até de organização subjetiva. Ao definir que certa trilha sonora toca enquanto você realiza tarefas específicas, seu cérebro passa a reconhecer aquele som como um gatilho de foco. Com o tempo, essa associação torna o processo mais automático e até prazeroso.
E não se trata de colocar um som qualquer no fundo. Estamos falando de usar a música com intencionalidade — transformando-a em aliada para transitar melhor entre foco e pausa, criação e execução.
4. Como usar a música erudita na sua rotina empreendedora
Incorporar música erudita ao seu dia a dia não precisa ser complicado. Você pode começar criando pequenas “trilhas sonoras” para diferentes momentos da sua jornada empreendedora. Veja algumas sugestões:
- Ao iniciar o dia, escolha composições calmas para acompanhar seu planejamento ou leitura de e-mails. Isso já regula o ritmo interno e evita o estresse matinal.
- Durante tarefas criativas, como escrever, desenhar ou editar, opte por peças mais lineares e com andamento suave — elas ajudam a manter o foco sem interferir.
- Use a música como um marcador de tempo: selecione uma playlist de 25 ou 30 minutos para praticar o método Pomodoro, que consiste em dividir o trabalho em blocos de foco (geralmente de 25 minutos), seguidos por pequenas pausas de 5 minutos — uma forma simples e eficiente de manter a produtividade sem esgotamento.
- Ao final do expediente, ouça algo mais leve e melódico como transição para o descanso, criando um “encerramento simbólico” do seu dia de produção.
Você pode encontrar playlists prontas em plataformas como YouTube e Spotify – basta procurar por termos como “música clássica para foco” ou “classical music for studying”. Algumas composições de Bach, Debussy, Erik Satie, Mozart e Vivaldi são boas portas de entrada.
5. Se você não gosta de música erudita…
Talvez você esteja pensando: “mas eu nunca gostei desse tipo de música…”. E tudo bem. Muitas pessoas não têm familiaridade com ela por não terem sido apresentadas em contextos acolhedores.
Mas aqui vai o convite: dê-se a oportunidade de experimentar. Escolha um momento tranquilo, coloque uma música suave — como “Gymnopédie n°1”, de Erik Satie, ou os “Noturnos” de Chopin — e apenas escute, sem compromisso. Pode ser que, aos poucos, você comece a notar os efeitos: menos ansiedade, mais foco, mais fluidez nas ideias.
A música erudita pode ser, sim, uma ferramenta de autoconhecimento e fortalecimento do seu ritmo interno — algo essencial no empreendedorismo, onde muitas vezes precisamos ser nossa própria estrutura.
Conclusão
Empreender após os 50 é um caminho de descobertas, ajustes e novas formas de organizar o cotidiano. Nesse percurso, cada ferramenta que favorece o bem-estar e a produtividade é bem-vinda — e a música erudita pode ser uma delas.
Mais do que uma trilha sonora de fundo, ela pode ser um suporte emocional, cognitivo e até espiritual, ajudando a criar ambientes mais tranquilos, focados e criativos. Mesmo que você nunca tenha escutado ou apreciado esse gênero, dê-se essa chance. Quem sabe você não descobre uma nova companheira de jornada empreendedora?